quinta-feira, 8 de março de 2012

Gigante Provisório













 




               O que Anish Kapoor criou para a exposição Monumenta 2011 no Grand Palais com sua escultura denominada “Leviathan” encontra-se além da imaginação artística. Sua criatura imensa e inflável feita de membranas bordô de PVC preencheu quase toda a área do salão de exposição de Paris e encantou os visitantes com seu êxtase de cores vermelhas.


Perto da magnífica Champs-Élysées, o Grand Palais com seu teto abobadado de ferro e vidro é considerado um salão histórico de exposições no centro da metrópole francesa. Construído para a World Exhibition que aconteceu em Paris em 1900, representa um palco ímpar para obras de arte e possui 200 metros de comprimento e mais de 45 de altura. Esse prédio foi também palco da Monumento 2011 que o Ministério da Cultura e Comunicação organizou pelo quarto ano consecutivo. Seguindo exposições de artistas internacionalmente renomados como Anselm Kiefer, Richard Serra e Christian Boltanski, o artista inglês Anish Kapoor teve a tarefa de criar uma obra de arte especialmente para o Grand Palais. Com sua monumental escultura “Leviathan”, Kappor quase preencheu completamente a imensa sala de exposição. O nome da gigantesca obra de arte faz alusão ao monstro marinho bíblico de mesmo nome, bem como ao tratado do filósofo social Thomas Hobbes acerca do poder supremo do estado. Logo, não é de se espantar que Kapoor dedicasse sua escultura ao artista e ativista político Ai Weiwei que as autoridades chinesas mantiveram preso por mais de dois anos e meio.

Simbiose perfeita
A particular estrutura arquitetônica do prédio com seu piso em forma de cruz, sua luminosidade extrema e o tamanho do salãoapresentaram inúmeros desafios ao escultor nascido em Bombaim e sediado em Londres. “Minha ambição é criar um espaço dentro de um espaço que responda à altura e luminosidade da nave do Grand Palais”, afirmou o artista. Kapoor adaptou precisamente sua colossal escultura ao espaço disponível existente no Grand Palais. A criatura preenchida com ar e com forma arredondada consistia de um corpo longo que se estendia pela nave e pelos dois corredores que cruzam o prédio, além de três enormes saliências redondas. Trata-se de um verdadeiro gigante, com um comprimento de quase 100 metros, sendo que 35 metros de altura e 72.000 metros cúbicos de volume perto do qual as pessoas parecem minúsculos pontinhos. Era possível visualizar a obra de arte de dentro, bem como, de fora do objeto. Os visitantes conseguiam ter a sensação de dois mundos completamente diferentes.

Organismo pulsante
O corpo da obra de arte, cujo interior podia ser acessado pelos visitantes pela entrada de ar, era de uma beleza inigualável e os conduzia a um mundo fechado de cor vermelha, muito distante da agitada Paris. A luz do dia penetrava na obra de arte através do telhado de vidro e das membranas revetidas de PVC flexível bordô, e, dependendo da claridade do dia, iluminava a abóbada com várias tonalidades de vermelho, cor predileta do artista. “Os visitantes serão convidados a caminhar dentro da obra de arte, para imergir na cor, o que será, espero, uma experiência contemplativa e poética”, explicou Kappor sobre seu projeto imaginativo, primorosamente executado. Aqui, como em outras instalações, como por exemplo, a Cloud Gate (2004) elaborada com aço inox no Park Millenium em Chicago, o trabalho de Kappor capturou a imaginação dos visitantes com sua impressionante forma de usar a luz.
Enquanto o sol brilhava, a imensa estrutura de ferro do telhado foi moldada como uma sombra, claramente visível de dentro da concha revestida. Juntamente com as costuras seladas da cobertura de PVC, que penetravam no tecido como veios, emergia um espetáculo fascinante com constante variação de imagens.
Dentro dessa esfera vermelha com cavidades que pareciam infinitas, os visitantes tinham a sensação de estarem dentro de um organismo pulsante, cujo enorme tamanho dificilmente poderia ser compreendido devido à sensação de espaço difuso. Cada pessoa tinha uma experiência diferente da obra de arte, porque segundo Kappor, não há visitante sem experiências de vida. Cada observação, cada olhar, é influenciada por lembranças pessoais, o que sempre acontece com obras de arte e esculturas abstratas.

Organismo fragmentado
O “Leviathan” causou uma impressão completamente diferente visto pelo lado de fora. O vermelho incandescente de dentro da obra se transformou em um abundante tom bordô. Mas, não somente o mundo das cores tinha mudado. As dimensões também eram diferentes uma vez que a percepção permaneceu fragmentada vista do lado de fora. O observador somente conseguia ter uma visão geral da obra arredondada caminhando ao seu redor, um passo de cada vez. Durante o processo, dependendo da localização do visitante no enorme hall do Grand Palais, surgiam continuamente novas perspectivas.

Arquitetura com membranas
Kapoor já trabalhou com as membranas de poliéster revestidas de PVC em outros projetos. A obra ”Marsyas”, de vermelho intenso, no Hall Turbine na London Tate Modern Gallery, de 2002, foi elaborada com esse material, assim como “Melancholia” no Museu de Arte Contemporânea na cidade de Hornu.

Kappor contratou uma empresa líder de mercado para ser parceiro na execução e montagem de projetos artísticos de grande escala, utilizando estruturas de membranas, assim como para essa recente escultura exposta em Paris. Para a instalação, a empresa usou 13.000 m2 de membrana, cujos pedaços foram selados e unificados, com peso total de 12 toneladas.
Após trinta anos desde sua primeira exposição em Paris, Kapoor retorna à capital francesa com “Leviathan”. Foi um show inigualável que quebrou todos os recordes, inclusive de número de visitantes. Aproximadamente 250.000 pessoas foram ao Grand Palais, para o Monumenta, consideravelmente acima dos anos anteriores. Seu próximo projeto, “Orbit”, elaborado para os Jogos Olímpicos de Londres, terá uma estrutura de aproximadamente 115 metros de altura.
Fonte: PVC Today – Summer 2011 (adaptado)

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